A economia criativa e a cultura como elementos de requalificação de cidades

Por Marcus Gatto:

O Rio de Janeiro dos primeiros anos do século passado sofreu sua mais profunda transformação urbanística sob o governo de Pereira Passos, que desejava transformar a cidade em algo como uma Paris dos trópicos.

Isto resultou em um êxodo populacional das regiões centrais para aquelas mais interioranas, a beira da linha férrea. Assim nasceram os primeiros bairros suburbanos.

A nova ordem imposta pelo então prefeito, ampliaria o abismo social, já que  desconsiderava as necessidades básicas de moradia, atendimento público e transporte aos menos afortunados. Diferentemente do que foi ofertado aos mais abastados, que ganham da prefeitura, o Rio utópico, cheio de belezas, benesses, arte e comércio farto.

Com o passar dos anos, os problemas sociais apenas se agravam. Uma linha de pensamento mais humanista precisava nascer. Uma que permita que as pessoas trabalhem mais próximas de suas casas, com menor tempo de locomoção, com geração de desenvolvimento local e manutenção de saberes e costumes locais. As pessoas teriam mais tempo para o lazer, entretenimento e se relacionarem. Este é o princípio da valorização de territórios. 

A solução a estes dilemas nascem da fusão desta linha de pensamento somada a uma segunda, a da economia criativa, uma série de atividades que operam a partir do campo da intelectualidade, que encontra na criatividade e inovação seus locais de reflexão e ação. Englobam o design, moda, cultura, com todas as suas manifestações artísticas, publicidade e novas mídias, arquitetura e herança e patrimônio. 

O segmento criativa é um setor bem menos poluente e mais inclusivo que outras áreas da economia e trabalha com taxas de crescimento acima da média do PIB.

Surge assim o conceito dos “clusters”ou distritos criativos, muito bem explicado por Andrea Matarazzo (https://pt.wikipedia.org/wiki/Andrea_Matarazzo). Estas áreas são espaços normalmente localizados em áreas  degradadas e/ou com grande ociosidade de prédios e espaços públicos sem função específica e/ou que precisam ser requalificados.

O governo então entra com uma série de medidas que envolvem diversas secretarias, como de habitação, ação social, tecnologia, planejamento urbano e cultura, a fim de criar uma ambiência que garanta as condições mínimas como redução de carga tributária, planos de ocupação de longa duração, melhorias da região, como iluminação e transporte e muitas vezes com alteração do plano piloto, para que construções e atividades mistas sejam possíveis, a fim de permitir que em uma mesma região possa coexistir empreendimentos e moradia.  

A partir da ação governamental, empresas são selecionadas e começa o processo de ocupação. O setor criativo se caracteriza também por sua capacidade de geração de postos de trabalho, daí a importância da reavaliação de planos pilotos da cidade, para que ocorra a atração de pessoas interessadas em ali viver e trabalhar, ou como ocorre em muitos casos, as pessoas consigam achar uma ocupação mais próximas de suas casas. 

Esta nova dinâmica tem como efeito prático o aumento do sentimento de segurança e bem estar. A curto e médio prazo, começa a surgir a demanda por serviços, como restaurantes, bares e entretenimento. A economia local se desenvolve e começa a absorver mão de obra do entorno. 

Com a maior integração dos moradores com a localidade, surge o interesse pela a história da região, que propicia o resgate de tradições e costumes e isto evita o processo de gentrificação da área, que leva a mais valia. 

A quem tenha interesse em saber mais sobre este processo no território brasileiro de criação de distritos criativos pode-se debruçar sobre o que a cidade de São Paulo tem feito. Muito foi feito no governo estadual anterior, sob a gerência do então secretário estadual de cultura, Sérgio Sá Leitão.  

Nada disto é mágica, mas um novo caminho é possível a partir de um plano de estado que se baseie em estudos, que tenham como meta, o resgate da dignidade e qualidade de vida das pessoas, aliado a cuidados socioambientais. 

Cabe a cada um de nós cobrar dos nossos mandatários as medidas para que esta realidade chegue ao maior número possível de pessoas. A cidade agradece.

Marcus Gatto é produtor cultural.

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