*Por Francis Ivanovich:
Este artigo surgiu após uma interessante conversa sobre o metaverso com os companheiros de luta, Paulinho Sacramento, Raphael Ruvenal, Júlio Mourão e o recém-chegado Luiz Henrique. No diálogo, revelei minhas dúvidas sobre este mundo que se anuncia.
Mas afinal o que é metaverso?
Metaverso é um ambiente virtual imersivo, coletivo e hiper-realista, onde poderemos conviver usando avatares customizados em 3D, quando experimentaremos a sensação de estarmos imersos num universo virtual, com a união da realidade aumentada com a realidade virtual, numa vivência tridimensional, substituindo a internet que hoje a gente utiliza, através das telas planas nos celulares, computadores, tablets, TVs que seriam substituídas por óculos especiais (hoje custam cerca de 4 mil reais), fones de ouvidos, sensores, etc.
A palavra metaverso não foi criada pelo “esperto” Mark Zuckerberg”, só por ele alterar o nome da sua empresa de Facebook para Meta. Quem a criou foi o escritor americano – sempre os escritores – Neal Stephenson, pseudônimo de Stephen Bury, em seu livro “Snow Crash”, de 1992, quando o computador pessoal mal fazia parte da nossa vida e o Rio de Janeiro recebia a Eco 92, que trabalhei como jornalista, discutindo o efeito estufa e o desmatamento da Amazônia.
No entanto, devemos ao dono do antigo Facebook a popularização do nome Metaverso, principalmente quando sua empresa, em outubro de 2021, anunciou que ela iria se dedicar ao mercado de realidade virtual (VR) e de realidade aumentada (VA).
O tema metaverso é complexo. Não cabe num simples artigo como este, mas nos faz pensar que estamos a caminho de uma revolução inimaginável, a revolução da internet 3.0, que Zuckerberg acredita estar disponível em 10 anos. Há quem ache que vai demorar mais por causa das implicações de acesso à tecnologia e seus altos custos.
Os defensores desta tecnologia apontam vantagens impressionantes no campo da educação e saúde, por exemplo. Tratamentos de doenças, cirurgias seriam realizadas com uma eficiência em qualquer ponto do planeta; os estudantes, em vez de estarem sentados diante de um quadro verde ou da tela plana do computador ou celular, estariam literalmente dentro do conteúdo, vivenciando um aprendizado mais profundo e duradouro. No campo da economia as engrenagens já estão em movimento, as criptomoedas, como os Bitcoins, são mais que realidade.
Na área da Cultura, o metaverso promete ser o lugar da redenção, onde poderemos assistir shows sem limite de público. Exemplo real foi o show do rapper Travis Scott no interior do jogo de videogame Fortinite, em abril de 2020, atingindo cerca de 12 milhões de pessoas, em tempo real, para assistir ao lançamento de uma de suas músicas.
O que me incomoda é que o Capitalismo, como um ladrão que te espreita na esquina e quando você menos espera, dá o bote, não tem escrúpulos. Não podemos ser ingênuos com esta suposta maravilha. Raposas como Zuckerberg, Elon Musk, Gates, etc., são capazes de dar nó em pingo d’água, realmente. O metaverso é uma mina de ouro. Esse mundo paralelo vai movimentar muito dinheiro e exigir um novo sistema jurídico, sem dúvida, pois caso contrário, poderá se tornar lugar onde poucos controlam e influenciam a vida da maioria, como já acontece na internet que conhecemos, só que de maneira mais perversa e excludente.
O metaverso é prato cheio para o capitalismo, e isso afetará a vida política, sem titubear. Os anos de 2016 nos EUA e 2018 no Brasil, são datas históricas, quando a internet definiu eleições nos dois países. Imagine como o metaverso irá influência na vida política, nas eleições, imagine determinado político tomando cafezinho com você e sua família na sala da sua casa. No mínimo, a legislação eleitoral vai ter de se debruçar sobre a realidade virtual para impedir abusos e manipulações no mundo real, afetando nossa vida carne, osso e voto.
No campo existencial e psicológico então, nem vou entrar nesses temas agora. Posso parecer um daqueles falsos moralistas liberais gritando na porta do quartel que o metaverso é lugar perfeito para a exploração do jogo e do sexo.
O destino da humanidade é evoluir, e já evoluímos muito. Há poucos séculos, escravizamos as pessoas, crianças eram acorrentadas em máquinas na Inglaterra da primeira Revolução Industrial, as mulheres não tinham o direito ao voto, e para nos comunicar com alguém era necessário escrever uma carta em papel e ir ao correio. Não podemos nos fechar para o futuro, jamais.
No entanto, está mais do que na hora desses impérios empresariais que fazem parte do “deus” mercado, contribuírem de verdade contra absurdos como a fome, analfabetismo, não acesso à moradia, fim dos direitos trabalhistas, a uberização das pessoas, e ameaças constantes à democracia. Elas devem se comprometer legalmente e de fato, pagando por isso, com a luta contra a exploração sem limite das pessoas e dos recursos naturais e não naturais.
Quando o presidente Lula, eleito com mais de 60 milhões de votos, criticou o humor do mercado, uma chuva de críticas caiu sobre ele, mas o mercado não reclama quando o mimado Elon Musk demite mais de 11 mil pessoas. Essa realidade é nada virtual, é bem real e aumentada.
Que venha o metaverso, seja bem-vindo, mas que o acompanhe a justiça social, o respeito à democracia, à nossa liberdade de escolha, de ir, vir e ser neste mundo bem real.
*Francis Ivanovich é jornalista, cineasta, produtor cultural do Prêmio Nacional de Dramaturgia Flávio Migliaccio e editor deste blog Saravá Cultural.