
*Por Francis Ivanovich:
Não importa se você goste de ser chamado de artista, trabalhador da cultura, produtor cultural, técnico, etc, não importa, a realidade é inequívoca, estamos no mesmo barco. A embarcação tem o casco rachado, a água invade, o barco vai afundar neste mar revolto que é o Brasil deste desgoverno, o pior da história.
Estamos vivendo tempos bem difíceis. A pandemia confirmou nossa importância, que somos úteis de verdade à vida, e não um bando de sonhadores. A Cultura impediu que muita gente enlouquecesse, pulasse da janela, fizesse besteira; a Cultura, a arte, salvou tanto quanto as vacinas.
Agora que a pandemia cedeu terreno, já não abre tantas sepulturas, nós voltamos ser tratados como párias, sonhadores pedintes, como eles, alguns dos burocratas da Cultura gostam de nos denominar.
Voltamos à velha ladainha, mendigar editais, se submeter ao descaso, desrespeito, indiferença. Fim da fila. Somos usados, tratados bem quando convém, os palanques que o digam. A exploração está aí, escancarada, somos aviltados, vilipendiados, tratados como ETs.
Parece até que a gente não precisar comer, morar, se vestir, comprar remédio, viver. Talvez eles pensem que somos eternos personagens, seres irreais, feitos de nuvens. Talvez eles acreditem que criar é brincadeira, ensaiar é passatempo, se apresentar seja um simples ato de vaidade.
A gente precisar se unir de verdade.
Se a gente não se juntar, vamos naufragar de vez. E como podemos fazer isso? Dialogando de verdade, conversando pra valer com quem vale a pena, indo para as ruas.
Mas é sempre a mesma história, cada um cuida da sua vida, da sua produção e vai para a rede social impulsionar o sonho pessoal, e enriquecer a ferramenta digital.
Não dá mais para meia dúzia de idealistas ficarem remando contra a correnteza. Volta e meia isso acontece. De um grupo inicial enorme, sobram poucos que não largam o leme.
A gente precisa acordar. Não dá mais para acreditar em Pai Natal, como se diz lá em Portugal, com seu saco cheio de prendas.
Saco cheio está a gente, os artistas, trabalhadores da cultura, técnicos, produtores culturais, gente carne e osso.
A gente precisa reivindicar, botar a boca no trombone, fazer greve, usar o que sabemos fazer, barulho! Pelo menos para sermos mais respeitados, ouvidos, e não continuarmos ocupando o rodapé da história.
Lula tá vindo aí. Cadê a Cultura conversando com Lula? Precisamos conversar com Lula, com o próximo Ministro da Cultura, com os parlamentares, com todos os que acreditam que a Cultura seja realmente importante para o país e não só a cereja do bolo.
Recentemente houve uma boa reunião com companheiras e companheiros da Cultura, coordenada por Ana Lúcia Pardo. Ficou evidente a necessidade de um encontro da Cultura com Lula quando poderemos entregar uma carta manifesto. É fundamental a gente mostrar a nossa cara, dar voz aos nossos sérios problemas. É um primeiro passo importante neste momento.
A gente precisa se unir e partir para a ação!
Cultura gera emprego, silêncio gera fome.
*Francis Ivanovich é jornalista, autor e diretor teatral, escritor e roteirista, diretor de cinema, produtor cultural, criador do prêmio Nacional de Dramaturgia Flávio Migliaccio, diretor de comunicação do Núcleo Saravá Cultural e editor deste Blog.
(Foto de Ierê Ferreira, quando da inauguração do Comitê Cultura Gera Emprego, do Núcleo Saravá Cultural)