Diálogo com a Cultura será uma prática constante no governo Lula

Por Francis Ivanovich:

Penso em ficar só, mas minha natureza pede diálogo e afeto”, escreveu certa vez a escritora Lya Luft, (1938-2021).

A Cultura, em sua natureza, é um ecossistema complexo, diverso, que bem representa a formação do povo brasileiro, exige sempre a escuta, a fala e o afeto.

Os fazedores da cultura, desde o golpe contra a presidenta Dilma, em 2016, vêm amargando um processo de silenciamento e fragilização covarde, que no atual desgoverno que se encerra, viveram um dos mais sombrios períodos da história, que coincidiu com a pandemia.

No último domingo, 27 de novembro de 2022, na quadra da Portela, um lugar mágico sob as asas de uma águia que simboliza a liberdade, os fazedores de cultura se reuniram sob a coordenação da atriz Lucélia Santos, uma das integrantes indicadas pelo presidente Lula para o grupo de transição da Cultura.

Tive a oportunidade de falar para Lucélia que seu desempenho nesse Grupo de Trabalho, me surpreendeu. Sem dúvida, a atriz vem se revelando uma hábil escutadora, com disposição genuína ao aprendizado, sem querer impor sua visão pessoal, completamente aberta a colher um diagnóstico mais fiel possível sobre o estado de saúde da Cultura, no estado do Rio de Janeiro.

É evidente que o tempo para tal diagnóstico é curto, incapaz de possibilitar uma análise mais completa. Entretanto, há de se salientar que esse processo é o início do diálogo na cultura, o que é fundamental, indicando que o novo governo terá como marca a disposição de ouvir e não apenas propor soluções para os graves problemas que foram criados e aprofundados pelo desgoverno que já vai tarde.

Durante o encontro, ficou explícita a repressão que os fazedores de cultura experimentaram durante os últimos quatro anos. Muitos deles não se contiveram e acabaram por extrapolar o tempo de fala de apresentação pessoal, o que foi compreensível, afinal, não é todo dia que um governo está disposto a ouvir a Cultura.

O trabalho do GT já contamina positivamente outros ambientes, como na última sexta-feira, por exemplo, 25 de novembro, quando ocorreu de maneira remota um encontro nacional de artistas e técnicos do teatro brasileiro, provocado pela Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Um encontro potente e rico que contou com a participação da companheira Fê Camargo, na assessoria de Lucélia Santos, na transição.

Há vozes contrárias ao GT, sempre há, mas não se pode negar que esse processo é primordial para a criação de um novo ambiente que possibilite a detecção dos reais problemas e soluções para a Cultura. Os desafios são enormes, não será tarefa fácil.

O que está bem definido é que os fazedores de Cultura, a partir de agora, nos seus diversos segmentos de atuação, devem se organizar, debater pautas, apresentar propostas, e não ficar esperando por “milagres” caídos do céu de Brasília.

O diálogo é fundamental, essa prática deve ser permanente, só assim a Cultura terá voz e afeto, deixando de ser tratada como objeto de decoração. Os tempos de silêncio e morte devem ficar no passado, mas nos alertando sempre de que os inimigos da Cultura estão sempre de prontidão.

*Francis Ivanovich é jornalista, cineasta, produtor do Concurso Nacional de Dramaturgia Flávio Migliaccio, editor do Blog Saravá Cultural do PT e diretor de audiovisual TVPT Rio de Janeiro.

(foto Instagram @luceliasantosoficial)

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