Neste artigo o fotógrafo e retratista Ierê Ferreira fala sobre o samba que é tema da exposição “Samba Identidade Nossa” que será inaugurada brevemente no Pequeno Museu Carioca, no Largo de São Francisco da Prainha, cujo objetivo é potencializar a importância cultural do samba e sua relação com o desenvolvimento cultural do país.
Por Ierê Ferreira:
Antes de mais nada, a fotografia é uma atividade divertida. É feita para registrar lembranças e comunicar nossas ideias e pensamentos, além de servir de meio para divulgar a cultura de um povo. É única em sua capacidade de congelar para sempre um determinado instante do tempo.
É isso, talvez, o que lhe proporciona um encanto universal.
O samba é indiscutivelmente o gênero musical que confere identidade ao Brasil. Nascido da influência de ritmos africanos foi sofrendo inúmeras modificações por contingências das mais diversas – econômicas, sociais, culturais e musicais – até chegar no ritmo que conhecemos.
Simbolizando primeiramente a dança, para anos mais tarde se transformar em composição musical, “o samba” – antes denominado “semba” – foi também chamado de umbigada, batuque, dança de roda, lundu, maxixe, batucada e partido alto, entre outros, muitos deles convivendo simultaneamente. Parafraseando Wilson das Neves: “o samba é uma escola de filosofia”.

Um pouco da história do samba na cidade do Rio de Janeiro.
Com a abolição da escravatura e o fim da Guerra de Canudos, o Rio de Janeiro ganhou novo ritmo. A então capital federal acolheu, nos bairros próximos à zona portuária (Saúde, Praça Onze, Morro da Providência e Estácio), a mão-de-obra dos negros recém libertos, e muitos soldados que trouxeram suas famílias da Bahia para estas localidades, pois havia demanda de trabalho braçal e oportunidade de emprego.
Com o incentivo e a força das mulheres baianas zeladoras dos Orixás, os quintais das casas logo se tornaram espaços para festas, danças e retomada das tradições. Baianas quituteiras, adeptas do Candomblé, eram também responsáveis pela manutenção dos rituais africanos na redondeza.
Algumas quituteiras importantes para a nossa história: Tia Amélia – Mãe de Donga; Tia Prisciliana – Mãe de João da Baiana; Tia Veridiana – Mãe de Chico da Baiana; e a mais famosa de todas, Tia Ciata. Foi na casa de Tia Ciata, que o samba ganhou forma, destinado a tornar-se um gênero de música popular.

Um detalhe a ser lembrado
Inicialmente o samba ficou restrito à antiga Praça Onze, ao Estácio, aos morros e aos subúrbios do Rio, pois o samba era proibido e os sambistas eram perseguidos pela polícia. Aos poucos o Samba foi penetrando nos meios mais populares, ganhando espaços e conquistando novos adeptos na classe média, através de músicos renomados e de grande sensibilidade.
Hoje o Rio de Janeiro é uma cidade que respira cultura. E o samba vence preconceitos a cada dia, graças à força do seu próprio ritmo. Derruba barreiras que separam classes sociais e raças. Assim, torna-se nobre por excelência.

Essas e outras histórias demonstram a capacidade criativa da população negra de superar as dificuldades impostas pelo sistema pós-abolicionista. Sendo assim, entendemos que a Exposição Samba Identidade Nossa que vou inaugurar brevemente no Largo do São Francis da Prainha contribuirá para o acesso das diferentes camadas da população à produção artística.
O samba dava o tom das festas nos quintais, mas também tomava as ruas e embalava os desfiles de cordões, ranchos e blocos, como música, dança e composição autoral, o samba deu os seus primeiros passos na casa da Tia Ciata.
O elemento comum destes encontros musicais eram os estribilhos tocados e dançados por bons ritmistas, compositores e verdadeiros mestres da música popular, muitos deles profissionais como: Sinhô, Pixinguinha, Donga, Caninha, João da Baiana, Heitor dos Prazeres, entre outros.
Hoje podemos dizer que o samba venceu, mas devemos dar os méritos a quem é de direito, por isso justifico este projeto pela importância de lembrar a todos, quem são os autores, músicos, compositores e poetas desta vertente musical que confere identidade ao Brasil.

Objetivos da exposição
Quero na exposição “Samba Identidade Nossa”, no Pequeno Museu Carioca, potencializar a importância cultural do samba e sua relação com o desenvolvimento cultural do país. Além de Homenagear e valorizar os poetas e compositores e através deles suas ancestralidades, a fim de promover debates sobre história do samba, direitos autorais e conexos, créditos e valores de arrecadação e seus distribuidores.
Quero também propiciar atividades culturais aos adeptos do samba, aos alunos das redes publicas, ONG`s, e comunidades através da exposição e seus produtos.
Nessa exposição foi possível fazer um trabalho de redução de danos ambientais, reutilizando molduras, muitas delas doadas e ou adquiridas em pontas de feiras. Realizei um trabalho de reforma em cada uma podendo assim dar um melhor acabamento para as obras.
Espero estar contribuindo com a cultura do samba e do Rio de Janeiro e nossa identidade. Em breve envio notícias sobre a inauguração da exposição, onde espero encontrar vocês.
Até breve!
Acesse o site: https://ierefoto.wixsite.com/sambaidentidadenossa
* Ierê Ferreira é fotógrafo, retratista, produtor cultural e integrante do Núcleo Saravá Cultural do PT RJ.