“Se há dez pessoas numa mesa, um nazista chega e se senta,
e nenhuma pessoa se levanta, então existem onze nazistas numa mesa”
(ditado alemão)
Por Marcos Gatto:
Vivemos dias difíceis, onde assistimos, muitas vezes passivamente a crescente onda de intolerância contra minorias.
De forma ardil, pessoas vem difundindo seu discurso de ódio contravalores e direitos adquiridos após anos de luta. Estas falas saíram da escuridão e são (im)postas em pleno dia, sem medo.
Inicialmente estes pensamentos foram sendo introduzidos em nosso dia a dia de forma sutil nos últimos anos. A intolerância cresceu, sem que nós não fizéssemos algo para frear os acontecimentos que nos levaram a isto.
A caixa de Pandora foi aberta e dela está aflorando toda a sorte (no caso azar) de falas e ações preconceituosas e de manipulação da sociedade.
O discurso de ódio sempre nasce da mesma forma, em nossas mentes, pequena, remoendo um ou muitos fatores negativos ou prejudiciais a nossa situação momentânea, que em muitos casos até são factíveis. O problema é que estas pessoas começamos a procurar, pior, idealizar um(ns) culpado(s), para justificar as suas falas e ideologia.
Não raramente, estas ideologias recaem sobre as minorias, os menos representados e mais desguarnecidos de direitos, como negros, imigrantes, índios, grupos ou representantes de classes.
A ideia da superioridade de raça originou o racismo. Do desejo de subverter a religião de outrem a partir de sua própria, surge a intolerância religiosa. Do ato de não aceitar o diferente, nasce a repulsa, como ocorre com o homossexualismo. Como estas, existem tantas outras, como o xenofobismo, que é a aversão aos imigrantes e sua cultura, pois acreditam que estes não devem ter os mesmos direitos que os deles.
Todas estas formas de intolerância nos levam a apenas um lugar, ao ódio a tudo aquilo que não vem de seus próprios entendimentos sobre o que os cercam. Mas o fato é que estas pessoas esquecem que sua liberdade e fala vão apenas até esbarram sob o direito dos outros. É neste momento que os intolerantes desejam se impor, seja pela palavra ou em último caso pela força.
Mas se estes pensamentos são tão nefastos, por que não os identificamos e evitamos? Porque muitas vezes, quem propaga estas falas é nosso irmão, amigo, conhecido, parente e acabamos por tolerar, afinal, são apenas ideias, pensamento que destoam dos nossos, mas aparentemente não prejudicariam ninguém.
Mas aí que está o perigo. Ao não combatermos estes pensamentos, ainda em seu nascedouro, eles ganham força, germinam, ganham eco e começam a virar uma corrente de pensamento, nociva e perversa.
Assistimos a esta corrente ao longo da história e em nosso passado recente. Infelizmente parece que a humanidade não aprendeu com seus erros. Pensamentos com base no totalitarismo estão ganhando força, como vemos no caso do surgimento de neonazistas e fascistas, além de outros movimentos que usam da mesma base de pensamento para se forjarem e gerar medo.
Cada vez mais pessoas se sentam em nossas mesas, vociferando seus discursos odiosos e nós não reagimos a isto.
Todo e qualquer discurso de ódio deve ser combatido. Quando ignorados, estes começam a devorar o processo civilizatório e de igualdade. Estas pessoas não aceitam o divergente, não aceitam nada que não seja seu próprio reflexo e suas ideias, onde pregam que as minorias devem se curvar a maioria ou serão extirpadas, caçadas e proibidas de se expressar e conviver em sociedade.
Devemos nos manter em constante estado de alerta na defesa democrática e de direitos. Não podemos aceitar a falsa ideia de que estas pessoas estão se valendo de sua liberdade de expressão, muito pelo contrário. O que desejam é difundir no meio da sociedade seu pensamento de totalitarismo, de negacionismo de toda e qualquer ideia de que não sejam as suas próprias.
Marcus Gatto é Produtor Cultural.