
Por Francis Ivanovich:
Os nomes de Margareth Menezes, como ministra da Cultura, e Márcio Tavares, este como seu braço direito no ministério, considero excelentes escolhas. Para quem torce o nariz para o nome de Margareth, por preconceito ou desconhecer sua trajetória, vale destacar que ela bem representa o início dos que são oriundos das periferias e veem na Cultura um importante ambiente de expressão, crescimento pessoal e liberdade.
Margareth, bem antes de se tornar conhecida como artista da música, encontrou no Teatro, ainda adolescente, a porta de entrada para o mundo das artes e da Cultura. No ensino médio, antigo ginasial, ela integrou o grupo teatral do Centro Integrado de Educação Luiz Tarquínio, em Boa Viagem, Salvador, entre os 15 e 18 anos de idade. Margareth teve como mentor Reinaldo Nunes, ator e diretor teatral que fundou a Companhia Baiana de Comédias, grupo pioneiro no estado da Bahia.
Esta companhia conquistou diversos festivais intercolegiais e possibilitou a Margareth manter contato com importantes artistas teatrais baianos, como Jurema Penna, atriz que fez uma carreira impressionante, com dezenas de participações no teatro, cinema e na TV, atuando, por exemplo, em Irmãos Coragem, de Janete Clair, na TV Globo, com a personagem Indaiá, em 1970.
Margareth atuou também nas montagens de espetáculo como “Ser ou Não Ser Gente” (1980), no Teatro Vila Velha, em Salvador, e “Máscaras” (1981), de Menotti Del Picchia, ambas sob a direção de Reinaldo Nunes. Mais tarde, ela ficou responsável pela trilha sonora da peça “O Menino Maluquinho”, de Ziraldo, além da operação de som e técnica vocal.
Acho que vale este breve histórico para situar Margareth, demonstrando que por trás de uma marca, e hoje seu nome é uma marca importante no cenário da música nacional, está uma história íntima com o fazer cultural, que geralmente tem no Teatro o ponto de partida para uma vida dedicada ao fazer cultural.
Vale registrar também que em 2004, Margareth Menezes fundou a Fábrica Cultura, uma ONG que começou atuando na Ribeira (bairro onde morou na infância), na capital baiana, cujo trabalho tem como eixos estratégicos a Educação, Cultura e Sustentabilidade.
Hoje, Margareth Menezes está diante de um dos maiores desafios da sua vida profissional, como artista fazedora de cultura. Acredito que, pelo seu histórico, possui as qualidades para ocupar o cargo, além de poder contar com o apoio de uma equipe preparada, que terá em Márcio Tavares, historiador, curador e gestor cultural (foto abaixo) como seu braço direito no Ministério da Cultura no novo governo de Lula.
Nós conhecemos Márcio Tavares, e mais do que seu currículo – é Doutor em Arte pela Universidade de Brasília (UnB), Secretário Nacional de Cultura do PT nos últimos quatro anos – ele tem a experiência sobre o complexo funcionamento da máquina pública, tanto que atuou diretamente no processo de tramitação e votação das leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo no Congresso Nacional.

Margareth Menezes declarou recentemente que “sente que não vai ser fácil estar no cargo de ministra”. Considero tal afirmação um bom sinal, pois demonstra que ela tem plena consciência do hercúleo trabalho que a espera a partir do dia primeiro de janeiro. Não será nada fácil.
Margareth e Márcio podem contar com o total apoio do Núcleo Saravá Cultural, inclusive nós atuamos em reuniões e apresentação de diagnósticos para as áreas do cinema, teatro, dança, no grupo de trabalho da transição da Cultura, ao lado das companheiras Lucélia Santos e Fê Camargo, no Rio de Janeiro.
As expectativas são muitas, a Cultura foi quase totalmente destruída no desgoverno fascista. Neste momento crucial, o início do novo governo, cabe aos companheiros da Cultura somar forças, contribuir e que as críticas surjam no devido tempo, elas são importantes, mas agora é hora de acreditar e trabalhar por um Brasil mais igual, justo, sem fome e com educação e cultura para o povo brasileiro.
*Francis Ivanovich é jornalista editor do Blog Saravá Cultural, Diretor de Audiovisual da TVPT Rio de Janeiro, cineasta, produtor cultural, e curador do Prêmio Nacional de Dramaturgia Flávio Migliaccio.