Por Francis Ivanovich:
O recente caso do influencer Monark, que sinceramente jamais ouvira falar – para mim Monark era tão somente a tradicional marca de bicicleta da minha infância – me fez refletir sobre esse fenômeno da Comunicação e da Cultura, os tais influencers de cada dia.
Pesquiso na WEB, encontro sites dedicados a eles. Navego pelos sites e fico perplexo. Há influencer para tudo e todos. Há até influencers crianças. Como isso é possível? Pesquiso a origem da palavra influência. A palavra vem do Latim INFLUENTIA, de INFLUERE, “correr para”, referindo-se a um líquido, de IN-, “em, para”, mais FLUERE, “correr, fluir, deslizar”.
Opa!
A coisa começa a tomar sentido para mim. De fato vivemos tempos líquidos, como nos alertou o filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Baurman.
A confusão atual, coroada por uma pandemia e a possibilidade de um conflito armado planetário, se inicia ao fim da II Guerra Mundial, em 1945. A pós-modernidade começava florescer a partir das bombas atômicas sobre Hiroshima (a Rosa de Hiroshima) e Nagasaki, Japão.
Depois vieram os anos 60, com suas transformações desafiadoras para toda a sociedade, culminando no movimento de maio de 68, na França. A Guerra Fria no auge, o desastre do Vietnam, e entre os anos 70 e 80, o mundo é cooptado pela tecnologia que se prepara a ocupar nossas vidas, até então feita de papel e fios.
Em 1995, a era pós-moderna se apresenta diante de nós, atordoados, como consequência natural evolutiva da era moderna. A União Soviética desaparece; o Muro de Berlim é derrubado; a Internet entra em nossa casa e no trabalho, a revolução na comunicação humana, sem precedentes na história, inicia.
O mundo de fato se torna uma aldeia global, como vaticinara o velho Marshall McLuhan, filósofo e teórico da comunicação, que estudei na faculdade, nos anos 80. Ele que enxergou a Internet bem antes dela ser desenvolvida.
Hoje estamos neste mundo pirado! Com vozes vindas de todas as direções. Nos tornamos essa orelha e olhos com duas pernas, seres perdidos, sem saber os significados, as origens, as causas, se “deliciando” superficialmente com o mundo que escorre e se incendeia como gasolina.
Nos tornamos ansiosos, desesperados, angustiados ao extremo, quase que esquizofrênicos, vivendo entre o pânico e a morte. A pandemia acentuou todos esses sentimentos em cada um de nós, uns mais, outros menos. Precisamos ouvir conselhos!
Nossa depressão é geral, e para tentar amenizar seus efeitos, as farmácias são também os novos templos da alma, rezamos para São Pacheco, Santa Raia; o outro altar, é a tela, onde os Influencers, sempre a postos para seus seguidores, representam seus papéis de salvadores. O mantra, o aconselhamento divino, a nos salvar da nossa insignificância insuportável
Sim, vivemos tempos do gurus digitais, que na verdade não passam de frágeis criaturas, incapazes de ficarem de pé, mas com a aparência de deuses da sabedoria, oráculos da felicidade. Eles estão por toda a parte, a nos guiar pelo vale das lágrimas, em direção ao Paraíso.
Influencers da alma, coração, corpo, bolso, sexo, sonhos e a felicidade geral da Nação.
Assumo minha total insignificância, ignorância! Que ninguém concorde comigo, que eu seja apenas uma homem sem importância, com contas a pagar. Como nos canta o poeta Manoel de Barros, o poeta das desimportâncias:
“Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo”.
Os verdadeiros influencers são os grande Pensadores e Poetas da Arte e da Vida, os que realmente criaram uma obra que nos tiraram das cavernas.
Esses seres especiais são poucos. São os que pensaram e sentiram o mundo e a existência de verdade, nos legando os maiores tesouros e ensinamentos. Somente o humanismo e o conhecimento verdadeiro nos salvará dessa loucura, dessa barbárie.
Esses influencers das telas são frutos da nossa fragilidade, da nossa incapacidade de pensar e assumir o próprio destino. Os que estão por aí, não passam de crianças geradas no útero dos tempos líquidos; em águas contaminadas que o poderoso Sol da Verdade transformará em vapor de esquecimento.
De fato, vivemos tempos bem medíocres.
Francis Ivanovich é jornalista, autor, diretor de teatro e cinema, criador e produtor do prêmio nacional de dramaturgia Flávio Migliaccio.