Por Francis Ivanovich:
A pandemia foi um prato cheio para as plataformas de streaming. As salas de cinema fechadas, as pessoas em casa tentando sobreviver e as telas de todos os formatos acesas 24 horas por dia, literalmente, e haja cinema, música, etc.
Foi durante a pandemia, em 2020 que descobri a plataforma MUBI. Não demorou para eu assinar e cancelar a Netflix. Eu que amo o cinema de todos os gêneros e feito em todos os cantos do mundo, não poderia ter achado a plataforma perfeita que tem como principal característica uma curadoria cinematográfica apurada e ousada.
Onde eu veria um filme feito em Camarões, África? Na MUBI, claro.
Assisti um filme magnífico do cineasta camaronsense Jean-Pierre Dikongué Pipa, nascido em Duala, em 1940. O diretor começou a carreira no teatro e ao ir para Paris, frequentou o curso do Conservatório de Cinema. A Mubi está exibindo seu Muna Moto (foto destaque), de 1975, considerada uma das obras fundamentais do cinema africano.
Hoje afirmo sem titubear que aprendo mais sobre cinema na MUBI do que nos tempos de faculdade de Comunicação e Escola de Cinema Darcy Ribeiro.
A plataforma MUBI foi criada no ano de 2007, ou seja, há 15 anos, e a pandemia ajudou muito ela ser mais conhecida no Brasil. Seu nome inicial era The Auteurs – não tinha como pegar – mas o que predominou foi MUBI, nome que surgiu em 2010.

O criador do serviço de streaming MUBI é Efe Cakarel, esse cara na foto acima, com cara de nerd, que é apaixonado por cinema, e que vive em Londres. Li que ele curte cinema de arte ou cult, confesso que não curto esses adjetivos, cinema é cinema.
Inicialmente Cakarel tinha imaginado a MUBI como uma rede social destinada aos cinéfilos, onde eles iriam trocar ideias, etc. Isso a gente percebe na plataforma, pois é permitido ao assinante escrever críticas, fazer avaliações dos filmes numa página pessoal.
A MUBI, além de ser plataforma de streaming, é também distribuidora de filmes de novos diretores e diretores mais rodados, além de editora e parceira de importantes festivais de cinema pelo mundo.
As assinaturas da MUBI começaram a ser cobradas em 2010, no mesmo ano que o nome definitivo foi criado – eu pago 29,90 por mês, duas cervejas Heineken no boteco da esquina – e o curioso é que para assinar a MUBI na velha Europa, era pelo PlayStation 3, com a aplicação na loja PSN disponível.
No ano seguinte, em 2011, um canal do MUBI já estava disponível na linha Bravia da Sony. Vai sacando o trabalho de comer pelas beiradas da MUBI neste difícil nicho de mercado que é o Streaming.
A partir de 2012, o MUBI iniciou um modelo de vídeo sob demanda organizado por curadores para clientes especiais. No lugar de uma grande cinemateca disponível online, o MUBI apresentou um conjunto de 30 filmes que permaneciam disponíveis por 30 dias. A cada dia um novo filme estava disponível, com a saída de outro filme. E este é o modelo que praticamente é praticado hoje, uma estreia por dia. Isso para mim é sensacional.
Em agosto de 2013, o MUBI lançou um aplicativo para iPad, em inglês e outros cinco idiomas. O aplicativo permitia assistir aos 30 filmes da seleção atual ou enviar o filme para uma Apple TV, utilizando o aplicativo AirPlay.
Em 2015, o MUBI atingiu mais de sete milhões de assinantes na Europa e a empresa abriu escritórios em nos EUA, em São Francisco, na Alemanha, em Munique, e na Turquia, em Istambul, terra natal de Efe Cakarel.
Se você ama cinema e continua usando a Netflix, está no lugar errado. Ou na pior das hipóteses, assina as duas plataformas. A minha querida amiga Amanda Azulay – futura psicanalista, ela é neta do psicanalista que atendia a escritora Clarice Lispector – seguiu meu conselho e assinou a MUBI. Conclusão, não desgruda mais e assistiu recentemente uma mostra com praticamente todas as obras do Almodóvar. Pirou!
É isso. Vou parar por aqui, tem filme novo na plataforma, um filme da Islândia.
Não perco por nada!
*Francis Ivanovich é jornalista, autor, diretor de teatro e cinema, criador do prêmio de dramaturgia Flávio Migliaccio e integrante do Núcleo Saravá Cultural.