Prefeitura do Rio relativiza escravidão e a luta do líder da Revolta da Chibata

Por Caio Clímaco

Não há dúvidas de que o reposicionamento do monumento em homenagem a João Cândido – líder da Revolta da Chibata – realizado pela prefeitura do Rio foi positivo.

Anteriormente escondido e relegado atrás do VLT da Praça XV, o monumento passou a ocupar desde o fim de novembro a Praça Marechal Âncora, local popularmente conhecido por receber nos fins de semana a tradicional “Feira de Chão”, frequentada por colecionadores, revendedores e curiosos que segundo relatos, costumam ser expulsos do local pela própria prefeitura.

De toda forma, a estátua se encontra agora em um lugar mais digno, com bom fluxo de pessoas, ainda que não ocupe um local de intensa circulação tal como é a saída das barcas na Praça XV, onde se encontra a estatua de Dom João VI, doada por Portugal ao Brasil.

No entanto, no texto descritivo da placa de informações do monumento há algumas curiosidades-violentas.

A primeira violência se refere a alteração do nome da “Revolta da Chibata” para “Revolta dos Marinheiros”, representando uma clara tentativa de apagar a memória da escravidão no país. A segunda violência se refere a uma relativização, ou seja, uma diminuição da importância do papel histórico de João Cândido, na medida em que o texto, assinado pelo prefeito @eduardopaes não diz expressamente que a luta do Almirante Negro foi pelo fim da escravidão na Marinha, uma vez que a prática de açoite dos marinheiros ainda era prevista por lei, mesmo após a abolição. A Constituição de 1891 (vigente naquele período) dizia ainda que o direito a voto não era garantido a mendigos, analfabetos e subalternos da Marinha e do Exército.

Providências serão tomadas? O movimento negro carioca reagirá? O que farão os negros que pertencem ao partido do prefeito? Os movimentos e instituições de defesa dos direitos humanos farão algo? Estaremos acompanhando o desenrolar dessa história… “Pedimos a Vossa Exelência abolir a chibata e os demais bárbaros castigos pelo direito da nossa liberdade, a fim de que a Marinha brasileira seja uma Armada de cidadão, e não uma fazenda de escravos que só têm dos seus senhores o direito de serem chicoteados.” Mensagem enviada pelos rebeldes da Revolta da Chibata ao Presidente da Republica Hermes da Fonseca.

Caio Clímaco é fotógrafo e documentarista.

Foto 1: Localização atual do monumento. A frente se vê a Ilha Fiscal, local que abrigou o conhecido, luxuoso e vergonhoso “último baile do Império”.

Foto 2: Placa informativa do monumento

1 comentário

  1. Reparação Já!
    Eis que a luta de João Candido e seus companheiros da Armada da Marinha de Guerra,mesmo passados 112 anos daquela necessaria rebelião contra os crimes da chibatadas brancas,ainda não alcançou a sua devida vitória. O pensamento e mãos brancas racistas continuam exercendo o seu poder de mando,não temos que pedir nada,temos que exigir sim Reparações sobre esses crimes ocorridos no passado, pra impedirmos que um dia eles ousem tentar voltar com tais práticas sobre os corpos Negros. Salve o Almirante Negro!

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